O que os produtores ganham ou perdem com a regulamentação do VoD?

O mercado de VoD (Vídeo sob Demanda) – das gigantes Amazon, Netflix, Apple, Hulu e Disney – movimenta bilhões de dólares e só faz crescer, transformando o consumo de produtos audiovisuais, e obrigando os mercados a se regulamentar para não serem obliterados pelo poder econômico das novas plataformas. A imprensa Mahon entrevistou Mauro Garcia, presidente da BRAVI e membro do Conselho Superior de Cinema, que está junto à ANCINE e às empresas do setor lutando para fazer com que a regulamentação do VoD seja a melhor possível para quem produz.

“Para os produtores e os distribuidores, a questão da regulamentação não é só sobre a arrecadação. Como no Brasil temos um mercado ainda em crescimento, a contribuição não é o mais importante agora. Temos visto um movimento nas plataformas de produzir no Brasil, mas o produtor participa apenas como um prestador de serviço. Se o produtor não cresce, como ele atinge o mercado global? A Lei 12.485 tinha por finalidade o abastecimento do mercado interno, já nas plataformas não há um mercado, ele não está limitado. O produtor só se insere no mercado global se ele tiver alguma participação na propriedade intelectual. Sem ela o produtor não cresce, não avança, e isso foi garantido no mundo todo. Nossa questão não é só a contribuição, mas como o produtor marca presença nas plataformas e garante a propriedade intelectual do seu produto”, afirmou.

Mauro relembra na entrevista que, durante as discussões para a aprovação da Lei 12.485, a palavra “cota” era considerada um tabu, e afirma que a discussão sobre as cotas voltou, causando a mesma reação que antigamente: “Agora o palavrão volta, e acirra os ânimos. É curioso que como nós não temos mais só produtores X radiodifusores ou programadores de TV paga, hoje somos nós contra todo o mundo”. A entrevistadora Krishna Mahon relembrou que a lei que instituiu as cotas fez indústria do audiovisual passar a do turismo, ao que Mauro respondeu: “Tivemos essa experiência após a aprovação da lei, que foi benéfica para todo mundo. A audiência aumentou e os produtos tiveram uma boa repercussão. Agora estamos numa nova briga, é como se partíssemos do zero”, lamentou.

Modelo francês

Questionado por Krishna sobre qual dos modelos de regulamentação adotados em outros países seria o melhor para os produtores do Brasil, Mauro respondeu: “Talvez o modelo francês, que tem acima dele o modelo da Comunidade Europeia. 30% de todo conteúdo deve ser europeu, e dentro desses 30%, 20% do conteúdo deve ser francês, defendendo assim a língua e a soberania nacional. Temos que ter um modelo assim por aqui também. Somos diferentes da América Latina, falamos português. Há toda essa questão que nos aflige, além da questão empresarial. É uma briga com gigantes. Se não for com cotas, como garantimos nossa presença? E além da presença dos conteúdos brasileiros nos catálogos, os produtores devem ter direitos à propriedade intelectual, só assim estaremos falando de uma indústria da produção independente. Se não lutarmos por isso, ficaremos de fora desse mercado”, afirmou Mauro Garcia.

Fonte: Imprensa Mahon

 

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