Uma câmera na mão, uma ideia na cabeça e… nada nos bolsos? Por mais que a tecnologia tenha avançado nos últimos anos, os custos de produção ainda representam um gargalo considerável para o audiovisual. Os caminhos tradicionais usados por produtores de cinema, TV e internet passam por captação de verbas públicas, aprovação de projetos de renúncia fiscal e variados níveis de burocracia. A busca por formatos inovadores de financiamento é um dos pontos de interesse do curso de pós-graduação em Produção Audiovisual – Projeto e Negócio do Senac. É um dos poucos cursos voltados para o profissional de produção no Brasil, concebido para sanar o desequilíbrio entre a abordagem teórica e a preparação para o mercado.
“Até bem pouco tempo, o mercado audiovisual brasileiro era viabilizado, majoritariamente, por meio das leis de incentivo e editais de fomento. Desde a criação do Fundo Setorial do Audiovisual (em 2011) e do crescimento da produção independente de TV, observamos o amadurecimento de uma visão do mercado audiovisual como setor estratégico”, explica Daniela Pfeiffer, gerente de Negócios Audiovisuais na consultoria Animus e professora de Análise do Mercado Audiovisual na pós-graduação do Senac.
A coprodução em parceria com companhias internacionais é um modelo cada vez mais usado. Segundo levantamento da Agência Nacional do Cinema (Ancine), dos 127 longas-metragens brasileiros que estrearam em 2013, 21 tiveram participação de outros países. Em julho de 2012, a Ancine definiu, por meio da Instrução Normativa nº 126, o passo a passo para os interessados em credenciar seus projetos como coproduções (o chamado Reconhecimento de Coprodução Internacional). A produtora local deve estar cadastrada na Agência. “Para ser reconhecida como uma obra brasileira, a coprodução deve obedecer aos critérios estabelecidos por um acordo oficial, tais como aqueles que o Brasil possui com Canadá, França e Argentina”, diz Daniela, citando filmes como Budapeste (Brasil, Portugal e Hungria) e Jean Charles (Brasil e Reino Unido).
O ator Selton Mello em cena de “Jean Charles”, de Henrique Goldman
Os fundos de private equity – instituições que investem em projetos e/ou empresas com grande potencial, mas que precisam de alavancagem financeira – também estão de olho no audiovisual. As boas bilheterias obtidas por diversos longas brasileiros nos últimos anos e o amplo mercado aberto com as mudanças nas regras sobre conteúdo nacional nas TVs por assinatura despertaram o interesse. “A utilização de private equity ainda acontece de forma pontual, porém espera-se que o processo ganhe fôlego, elegendo o audiovisual como um setor altamente rentável”, acredita a professora. Eventos como o Rio Content Market, realizado anualmente no Rio de Janeiro, e entidades como a Associação Brasileira dos Produtores Independentes de TV (BRAVI) vêm promovendo encontros entre representantes de fundos de produtoras, estreitando laços e estudando possibilidades.
Já o branded content é a fronteira entre o filme publicitário e a expressão autoral criativa: programas para TV, rádio ou internet criados sob encomenda para empresas patrocinadoras, que aproveitam o conteúdo para divulgar suas marcas, valores ou propósitos, sem cair na propaganda explícita. Entender como se desenvolve um projeto de narrativa, em diversos formatos, com apelo para captar o investimento de grandes marcas, é o desafio. “Trata-se de um conteúdo a ser trabalhado de forma natural e inteligente junto ao consumidor, de forma a não configurar uma mera propaganda da marca”, explica Daniela.
Fonte: Revista de Cinema