Em baixa, M. Night Shyamalan tenta dar a volta por cima com a série ‘Wayward Pines’ e o filme ‘A visita’

RIO – M.Night Shyamalan é um homem de extremos. O indiano conquistou o mundo com o sucesso estrondoso de “O sexto sentido”, de 1999. A assustadora história do garotinho que via gente morta faturou US$ 672 milhões, foi indicada a seis Oscars, e o diretor ganhou fama e prestígio. Seu filme mais recente, porém, foi em 2013, e mesmo com Will Smith e seu filho Jaden estampando os cartazes, “Depois da Terra” foi um desastre, espinafrado por crítica e público. Depois de se tornar piada em Hollywood por enfileirar fracassos, Shyamalan tenta recuperar o respeito de outrora diversificando o campo de atuação. Agora, ele investe na série de TV “Wayward Pines”, que estreia mundialmente dia 14 na Fox, às 22h30m, e no filme “A visita”, previsto para ser lançado no Brasil em outubro. Os primeiros episódios de um e o trailer do outro reacenderam a esperança da crítica especializada e dos fãs do diretor.

‘Quero apenas continuar tendo meu lugar na sala, não importa se é nas cadeiras do fundo ou ali no canto. Contanto que eu esteja lá, por mim, tudo bem’

– M. NIGHT SHYAMALANSobre fracassos no cinema

Estrelada por Matt Dillon, Juliette Lewis, Terrence Howard e Melissa Leo, “Wayward Pines” foi capitaneada pelo até então cineasta ao lado de Chad Hodge. Trabalhando por encomenda, Shyamalan escalou o elenco, montou a equipe e dirigiu o piloto, deixando diretrizes para os episódios restantes — inclusive quando o grande mistério da trama deveria ser revelado. “A visita”, por sua vez, é um filme autoral, rodado no quintal do diretor, na Filadélfia, com orçamento de apenas US$ 5 milhões, bancados por Shyamalan.

— Quero contar histórias baseadas em personagens e, definitivamente, acho que a TV tem mais espaço para isso. Já no cinema, sinto que preciso fazer filmes menores. A verdade é que quero apenas continuar tendo meu lugar na sala, não importa se é nas cadeiras do fundo ou ali no canto. Contanto que eu esteja lá, por mim, tudo bem — disse Shyamalan ao GLOBO durante sua passagem pelo RioContentMarket em fevereiro, consciente de sua posição difícil nos últimos tempos.

 

“Wayward Pines” é a primeira incursão de Shyamalan na TV e também a primeira vez em que ele não escreve o próprio material. Baseada no livro de Blake Crouch (“Pines”, recém-lançado no Brasil pela Planeta), a trama foi roteirizada por Hodge e segue um agente do serviço secreto (Dillon), que se vê preso na cidade-título após sofrer um acidente enquanto buscava dois colegas desaparecidos. No vilarejo, ele se depara com situações realmente estranhas.

 

— Foi um processo diferente, com prós e contras. O contra foi que essa história não tem muito de mim. Quando faço meus thrillers, me inspiro numa onda de emoção que vem de algum lugar. A vantagem foi criar uma distância do projeto, que me permitiu ver tudo com mais clareza. Pude dizer com mais distanciamento o que eu queria e precisava, orientar melhor. Achei saudável — afirmou.

Como os trabalhos anteriores do diretor, a série não se encerra num só gênero. Misto de thriller, suspense e drama, com um quê policial, “Wayward Pines” tem sido comparada a “Twin Peaks”, clássico David Lynch e Mark Frost, por seu climão estranho:

— O que eu realmente gosto nessa série é que, apesar de os acontecimentos serem superestranhos, tudo é muito fundamentado. Tudo é explicado. As respostas são muito defensáveis. E gosto de terem me deixado ser tão esquisito quanto eu gosto de ser — brincou. — Adoro quando citam Lynch porque ele vê o mundo de uma forma torta, o que é espetacular. Até hoje não acredito que deixaram que ele fizesse o piloto de “Twin Peaks”. É muito louco! Nossa série até tem um estilo parecido, mas sempre há uma razão para aquelas coisas estarem acontecendo.

‘Talvez haja espaço para isso, para filmes menores e idiossincráticos. Talvez essa seja a maneira correta para mim’

– M. NIGHT SHYAMALANSobre abandonar as superproduções

A experiência televisiva foi ótima, ele garante (“aprendi muito, e há outros dois projetos de série nos quais estou interessado”), mas Shyamalan admite que sua preferência é pelo cinema, ao qual deve voltar logo depois do lançamento de “A visita”. E novamente ao lado de Bruce Willis, astro de “O sexto sentido”, recuperando um antigo roteiro engavetado. Além disso, escreve um um novo thriller. Ele, que elege o controverso “A dama na água” como um de seus favoritos da própria lavra (o filme de 2006 arrecadou ínfimos US$ 72 milhões mundialmente), parece bem satisfeito com “A visita”.

— Foi uma aposta maravilhosa. Um filme sobre dois garotos que vão visitar os avós que eles mal conhecem e, bem… não dá muito certo — explicou. — Eu me diverti fazendo algo em um nível muito menor, pessoal. Meu diálogo é direto com o público, não tive que me reportar a executivos. Fiquei muito feliz com o que aconteceu, e o estúdio (que comprou o longa depois de pronto) amou. Talvez haja espaço para isso, para filmes menores e idiossincráticos. Talvez essa seja a maneira correta para mim.

Fonte: O Globo