MIPCOM homenageia o México e tem presença brasileira cada vez mais sólida

O jornal do MIPCOM em evidência em um dos movimentados corredores do evento realizado em Cannes (Foto: VALERY HACHE/REUTERS)O JORNAL DO MIPCOM EM EVIDÊNCIA EM UM DOS MOVIMENTADOS CORREDORES DO EVENTO (FOTO: VALERY HACHE/REUTERS)

 

CANNES – Nada do tapete vermelho do famoso festival de cinema. Durante o MIPCOM, feira de televisão que acontece duas vezes por ano e cuja versão mais calibrada vem agitando Cannes desde a última segunda-feira, na cidadezinha francesa, o clima é de negócios. Contratos são assinados, engravatados apertam o passo na Croisette e milhares de salas de reunião são ocupadas.

O Brasil está presente entre os 150 países no evento. A Globo, o SBT e a Record têm estandes para vender e comprar programação. A ABPI-TV, associação que agrupa as mais importantes produtoras de nosso país está representada por cerca de 150 profissionais. Eles buscam parcerias e são procurados para vender formatos. O presidente da entidade, Marco Altberg, frequenta o MIP há dez anos e diz que nunca antes tantos estrangeiros procuraram os brasileiros para tentar acordos de coprodução. É resultado do aquecimento do nosso mercado, depois da Lei da TV Paga.

— Há dez anos estávamos engatinhando no mercado internacional. Para ficar conhecido, leva tempo. Em uma década entramos neste mapa — analisa Altberg.

A Globo levou algumas de suas principais novelas para a feira. O carro-chefe é “La guerrera” (“Salve Jorge”), já negociada para 40 países. No catálogo ainda estão séries como “Suburbia”, “Xingu” e “O tempo e o vento”. Graças a uma parceria com a Globo Filmes, “Até que a sorte nos separe” 1 e 2 também estão sendo oferecidos.

A presença brasileira é tímida perto da mexicana, país homenageado no evento e também grande produtor de telenovelas, que trouxe 124 produtoras. Emilio Azacarra Jean, presidente da Televisa, diz que esse formato continua sendo a grande aposta do grupo.

— Sabemos que o streaming vem ganhando força na TV mundial e não queremos perder esse bonde. Estamos investindo em outras telas, mas a nossa especialidade segue a mesma: saber contar histórias que prendam o público por muitos capítulos. Vamos construir novas experiências sem deixar de lado aquilo que fazemos melhor.

Presidente da Sony, o americano Steve Moscovo (dono no Brasil, dentre outros canais, do AXN) também fala em “manutenção de um estilo enquanto se avança em campos de tecnologia ainda pouco conhecidos”.

— Nosso investimento continua sendo em ideias, em grupos seletos de pessoas capazes de criar grandes histórias. A criatividade é sempre o motor, isso independe da plataforma. É esse o nosso principal valor — lembra.

A pirataria, um problema sério enfrentado pela indústria da televisão, é outro assunto frequente na feira. Segundo Moscovo, quanto mais longe uma série de TV viaja, maiores os riscos, porque o produto, antes de ser exibido, passa por muitas mãos, dos tradutores aos que fazem as legendas. Ele explica como a Sony está agindo para evitar os vazamentos:

— Hoje pensamos exclusivamente em atrações que venham a fazer sucesso no mundo todo, não apenas nos Estados Unidos. Então buscaremos exibir os programas o mais perto possível de suas datas de estreia em território americano.

Programas até para cães

Outros pontos discutidos na feira — que, afinal, funciona também como um grande ambiente de troca de ideias sobre a indústria de TV — foram o streaming, a chegada do 4K e as maneiras de atrair a chamada “geração milênio”, aquela que assiste a conteúdo de TV em outras telas.

Para Moscovo, “os profissionais do ramo negaram por muito tempo a força do streaming”.

— Mas isso já passou. A Netflix é um fato. Não acho ruim: a competição torna todos mais criativos e agressivos.

Sobre a “era do ouro da TV”, um chavão cada vez mais surrado, há uma unanimidade:

— É como me disse o Vince Gilligan (criador de “Breaking bad”): há uma inteligência nos roteiros das séries hoje que só elas possuem — conta Moscovo. — O criador pode inventar personagens completos, com muitas camadas, graças a essa permanência no ar por muitos anos. É um alcance e uma sofisticação que o cinema não tem.

Quando a feira terminar, amanhã, Cannes retomará sua rotina tranquila. Mas muitos negócios terão sido fechados. Da BBC — que lançou, com pompa, a série “The intruders”, com direito à presença da atriz Mira Sorvino — ao Discovery, passando por canais infantis, eróticos e ate a DogTV, com programação voltada para cães, todos passaram por aqui.

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Fonte: O Globo