Steve Golin, de 61 anos, produziu nas últimas três décadas filmes que marcaram épocas. Ele esteve por trás do bombástico documentário ‘Na Cama com Madonna’ (1991), o cultuado ‘Quero Ser John Malkovich’ (1999) e o longa de que mais se orgulha ter trabalhado, ‘Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças’ (2004), de Michel Gondry. Há duas semanas, no entanto, sua carreira deu uma nova guinada quando subiu ao palco do Oscar para buscar o prêmio de melhor filme, por ‘Spotlight’.
Foi a terceira indicação de Stevie na categoria, sendo que este ano ele concorreu consigo mesmo, já que ‘O Regresso’, com Leonardo DiCaprio, também leva seu nome nos créditos de produção. “Isso nunca tinha me acontecido. Fiquei triste pela equipe do filme, mas muito feliz pela vitória do Leo”, diz ele, que, durante passagem pelo Brasil, no Rio Content Market, conversou com a coluna sobre Madonna, as eleições americanas e cinema brasileiro.
O que significou para você a vitória de ‘Spotlight’ no Oscar?
Foi tão excitante! Já coloquei o prêmio na minha estante de livros (risos). Percorremos um longo caminho com o filme até a cerimônia. Ele estreou no último Festival de Veneza e, por onde passa, é um sucesso. Fala dos sobreviventes dos abusos sexuais, um assunto que precisava ser trazido à luz, para ajudarmos a estancar o problema. Mostramos essa realidade na tela. Eu já tinha sido indicado por ‘Babel’ (2006), mas nunca tinha concorrido com dois filmes. Fiquei triste pelo pessoal de ‘O Regresso’, mas muito feliz pelo Leonardo (DiCaprio). Ele é um ator incrível, construiu uma carreira sólida. Leo deveria ser o presidente dos Estados Unidos.
Por quê?
Porque ele é focado, muito profissional, não fica de brincadeira no trabalho. Quer fazer o melhor que pode. É muito produtivo, tem um discurso coerente. Ele devia ser político porque é melhor do que muita gente por aí.
Quais são suas expectativas em relação às eleições americanas?
Espero que Hillary Clinton ganhe. É embaraçoso o que os republicanos fazem. Não discutem sobre educação. Tenho vergonha deles. São a pior coisa que há. De uma forma geral, o mundo está estranho. Não sabemos o que fazer. Não acredito que Donald Trump vá ser eleito, mas tudo pode acontecer. Acho que devemos dar apoio à Hillary neste momento. Ouvi dizer que aqui no Brasil, a coisa também não vai muito bem na política. Estamos sem muitas opções. O mundo está mudando muito depressa e as pessoas têm medo dessas mudanças.
Você assiste a muitos filmes brasileiros?
Eu deveria assistir a mais filmes brasileiros. Não sei muito sobre eles. Conheço ‘Cidade de Deus’, do Fernando (Meirelles), claro. Gosto muito dele. Recebo muitos projetos do Brasil. Ainda não resolvi se os filmarei ou não. Mas já trabalhei em alguns projetos da Argentina. Gosto do cinema deles. Adorei ‘O Segredo dos Seus Olhos’, que ganhou o Oscar.
O que falta para o nosso cinema ter mais status na indústria?
Não sei. Acho que é uma questão cíclica. Há 12 anos, eram os australianos que estavam arrebentando. Agora, por exemplo, diretores mexicanos, como Alejandro (González Iñárritu, vencedor do Oscar de melhor direção por ‘O Regresso’), estão fazendo muito sucesso nos Estados Unidos. Acho que ainda está por vir um novo ciclo, o do Brasil.
Qual é a equação perfeita para o sucesso de um filme?
Encontrar o roteiro que combine com o diretor escolhido. Esse é o grande truque. Penso nas histórias e as associo a alguns diretores. Mas também tem o elenco. Todo mundo quer ter atores significativos nos filmes, que deem retorno de bilheteria. É preciso ser seletivo.
Você acha que Tom Cruise e Julia Roberts perderam esse posto?
Tom Cruise ainda é grande, acredite. Ele faz muitos filmes de sucesso. Já Julia Roberts só trabalha quando quer. Mas ela é esperta, sabe aproveitar a vida. É muito difícil para a mulher acima dos 40 anos encontrar bons papéis hoje em dia. As pessoas escrevem pouco para atrizes dessa faixa. Mas vem por aí um filme ótimo com a Susan Sarandon.
A produção é sua? Qual é o nome?
Sim, é minha. Chama-se “The Medler” e deve estrear nos Estados Unidos. É a história de uma mulher que fica viúva e se muda de Nova Jersey para Los Angeles, para ficar com a filha. É bem doce, com uma pegada de comédia. A personagem da Susan acaba se envolvendo nos negócios da filha, que é interpretada pela Rose Byrne. A Susan é muito boa de trabalhar.
E a Madonna, com quem você também já trabalhou?
Ela não é a pessoa mais legal do mundo para se trabalhar (risos). Mas é honesta. Lembro que na época do ‘Na Cama dom Madonna’, ela não ficou dando pitis na edição, dizendo que não gostava dessa ou daquela cena. Ela deixou o Alek Keshishian, que a dirigiu, fazer o que quisesse. Mas, claro, ela não é burra. Sabia quando as câmeras estavam ligada. É muito inteligente, entende de marketing como ninguém. Me lembro de quando lançamos o filme no Festival de Cannes. Quando passamos pelo tapete vermelho, ela abriu a capa que estava vestindo e estava só de sutiã e calcinha por baixo. Foram tantos flashes na hora que parecia até que estava de dia. Eu não sabia que ela ia fazer aquilo. Foi uma loucura.
Fonte: Época