Como venho afirmando, a implantação da Lei 12.480 (Lei do Acesso Condicionado) está começando a impactar o mercado audiovisual brasileiro. O Brasil sempre foi mais importador do que exportador de conteúdo audiovisual e isso concentrava a produção e a distribuição do conteúdo nas mãos de poucas empresas e nas emissoras de televisão. Agora, com a vigência da Lei, o mercado interno, acrescido da TV paga e conteúdo OTT, está se fortalecendo e daqui a poucos anos poderemos ver o Brasil fazer frente à produção de conteúdo dos mercados internacionais.
Isto irá fazer com que a televisão aberta se mova para lidar com essa nova realidade. Mais conteúdo independente e mais variedade na TV paga. Até agora, o conteúdo estrangeiro dominava os canais pagos. O conteúdo nacional se dava nas emissoras abertas brasileiras disponíveis nos pacotes básicos. Mas, com a Lei, mais conteúdo nacional irá chegar a casa das pessoas e o local irá fazer frente contra o global. Confira duas matérias que apontam esse caminho.
Escrito por: Redação
Fonte: Estadão
Cristina Padiglione
Tratados pelo Ibope como Outros Canais (OCN), os canais pagos foram o segmento com maior crescimento de audiência entre maio de 2013 e maio de 2014. Só na faixa nobre, das 18 h à 0 h, o avanço no período foi de 38% – ou de 10,1 pontos em maio de 2013 para 14 pontos em maio passado. No universo de televisores ligados, os OCN abocanham hoje uma fatia de 25% do Painel Nacional de TV (PNT) no primetime, o que endossa que a TV por assinatura bem já se faz notar além do eixo Sul-maravilha. Os dados são da pesquisa voltada para os canais abertos, e não a partir da mostra de pay TV, em 15 regiões do Brasil.
Já legendados para o espanhol e o inglês, os vídeos do Porta dos Fundos na internet ganharão agora legendas em francês e alemão. Os hits da web entrarão na programação da FOX este ano, no original, claro.
E tem tom policial, ligeiramente de suspense, a segunda série que o Porta dos Fundos produzirá para o YouTube, com quatro episódios, no mesmo ritmo de Viral.
O Multishow contava com Fábio Porchat para participar de seis episódios da 2ª temporada do Vai Que Cola, mas o ator renegociou sua safra e reduziu a cota para dois episódios, em razão de uma agenda repleta.
A Record fez as contas e concluiu que o Programa da Sabrina acrescentou 13% de audiência à emissora no seu horário de exibição – das 20h30 às 23h, no sábado: foi de 6,9 pontos para 7,8 , segundo comparação entre o saldo da faixa nos seis sábados anteriores à sua estreia e a soma das seis primeiras edições do título. A vaga, antes, era ocupada por filmes.
Número de pequenas produtoras triplica em dois anos com lei da TV paga
Carolina Cunha
Do UOL, em São Paulo
Pouco mais de dois anos após a sanção da Lei da TV Paga, pequenas produtoras estão conseguindo entrar num mercado antes aberto apenas para grandes empresas. Desde 2012, ano em que as cotas de exibição de produções nacionais passaram a vigorar, o número de produtoras triplicou.
Em novembro de 2011, a BRAVI (Associação Brasileira de Produtoras Independentes) tinha 151 filiados, hoje são 465.
É o caso da carioca Soul Filmes, criada em 2012. “Praticamente não teríamos chegado ao que somos hoje se não fosse pela lei”, diz Roberto Rio Branco, sócio da produtora.
Quando percebeu que o setor ficaria aquecido, ele largou o emprego e se uniu a dois videomakers que estavam prestes a apresentar um projeto para o canal Turner.
Os contatos na área ajudaram a abrir portas e uma das primeiras séries a emplacar foi “Sangue, Suor e Javalis”, no canal Off, hoje um dos principais clientes da produtora.
Depois veio o TLC, exibindo a série “Viagens Maneiras”, e documentários musicais no canal Bis.
No início, todo dinheiro da Soul Filmes veio com a realização de projetos. O desafio, então, era equilibrar o caixa, já que as filmagens podem levar meses e demandam custos altos com a contratação de roteiristas, diretores, viagens, entre outros.
Branco afirma que uma produtora pode começar a funcionar com apenas uma câmera profissional e um software de edição (investimento de cerca de R$ 15 mil) para trabalhos pequenos voltados para internet e vídeos corporativos.
Com projetos mais complexos, compensa alugar equipamento e estúdios, e, com o tempo, investir em estrutura própria.
“Uma diária para aluguel de câmera e equipamento de áudio e luz para uma filmagem simples pode girar entre R$ 500 e R$ 1.000. Isso sem contar a diária dos profissionais, que varia muito”, afirma.
Sem divulgar seu faturamento, Branco diz que, desde sua criação, a produtora realizou 15 projetos, e hoje a equipe tem cerca de dez pessoas.
A Boutique Filmes, de São Paulo, nasceu com equipamentos e projetos próprios em 2013. Antes de bater na porta das emissoras, os três sócios que trabalhavam em grandes produtoras investiram mais de R$ 300 mil.
“Foram oito meses só de incubação da empresa. Tivemos um tempo para desenvolver ideias e projetos bons o suficiente para apresentarmos aos canais que a gente gosta”, diz Thiago de Mello, sócio e produtor-executivo da Boutique, que hoje emprega 15 funcionários.
Produção para TV exige boa gestão de caixa
Para TV, a produção e os riscos são grandes. “Quando você vende uma série, o custo é grande no início e menor no final. Mas você recebe uma parte antes, e leva um tempo para equalizar o fluxo de caixa. O mais importante para uma produtora iniciante é ter alguém bom em vendas e negociações. Não adianta ter boas ideias se você não sabe transformar isso em produtos”, diz Branco.
Carla Albuquerque, diretora-executiva da Medialand, produtora criada em 2006 e especializada em conteúdo para TV, conta que para produzir uma série de ficção, o valor pode variar entre R$ 100 mil e R$ 300 mil por episódio, enquanto um documentário pode custar de R$ 50 mil a R$ 180 mil por episódio.
Na opinião da executiva, quem quer atuar no ramo precisa ter uma boa carteira de projetos para lidar com a espera e os custos. “O dia a dia é uma grande linha de produção e fazemos de tudo para trabalhar com desperdício quase zero”.
Modelo de negócio é desafio
Para Mauro Garcia, diretor da BRAVI (Associação Brasileira de Produtoras Independentes) hoje não vale mais o lema “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”. “O desafio é encontrar o modelo de negócio certo. O que se estabelece agora é uma parceria. Se antes a produtora só vendia serviços, agora ela também é cofinanciadora”, avalia.
Existem diferentes modelos de negócio para a área, como o financiamento por recursos da emissora, a coprodução com emissoras (onde canal e produtora dividem os custos), o mix de verba privada e pública (a produtora participa de editais da Ancine, do Ministério da Cultura e busca incentivos fiscais como a Lei Rouanet) e a solicitação de recursos públicos.
Um bom caminho para a produtora iniciante é participar de mecanismos de incentivo. Para isso, ela deve estar cadastrada na Ancine (Agência Nacional do Cinema), que valoriza a empresa de acordo com a experiência. “Os produtores iniciais podem captar até R$ 1 milhão em projetos do órgão”, diz Garcia.
Entender a burocracia é fundamental para aproveitar os incentivos da lei
Criada antes da lei, a Academia de Filmes, produtora de, entre outros, o reality “Temporada de Moda Capricho” (Boomerang) e a série “Amores Expressos” (Arte1/Cultura), acompanhava desde 2007 o projeto que resultou na Lei da TV Paga. Tudo para cumprir uma etapa importante dessa nova legislação: a capacitação para entender os mecanismos e benefícios das leis de incentivo.
“A produtora precisou estruturar a área para gerir relações institucionais com órgãos públicos, atividade que inclui aspectos jurídicos e burocráticos, mas extremamente importantes para ter acesso aos recursos que fomentam a produção”, diz o produtor Paulo Roberto Schmidt. Em 2013, 40% do faturamento da produtora veio de conteúdo não publicitário.