Tomou posse nesta terça-feira (10) o novo diretor-presidente da Empresa Brasil de Comunicação, o jornalista Ricardo Melo, durante solenidade na sede da empresa, em Brasília. O presidente assume depois da saída do jornalista Américo Martins, que deixou o cargo em abril.
Ricardo, que já estava a frente da Diretoria de Jornalismo do órgão, destacou durante o discurso de posse que a Empresa Brasil de Comunicação é um patrimônio da sociedade brasileira e que esse projeto de comunicação pública deve ser defendido. “Conscientes de que a melhor maneira de defender a EBC, num instante tão delicado como este, é consolidar a empresa diante da sociedade enquanto um instrumento indispensável à democracia e à conquista da cidadania dos brasileiros”, afirmou. “Essa certeza acho que nos une a todos, independentemente do governo de momento”.
Melo destacou também o compromisso que “diz respeito à luta para que a EBC conquiste de fato sua autonomia financeira”, citanto o decreto que criou a empresa e estabeleceu um fundo para custear seus gastos com independência e sob controle dos órgãos de fiscalização e controle sociais. “Até hoje, porém, a maior parte deste dinheiro está embargada pela Justiça, fruto de liminares impetradas pelas operadoras de telecomunicação”, lembrou o presidente da EBC.
A presidente do Conselho Curador da EBC, Rita Freire, deu as boas vindas ao novo presidente afimando que “estamos juntos nesta travessia”. Freire destacou ainda a responsabilidade conjunta do Conselho Curador, Conselho de Administração, trabalhadores da empresa e que, na atuação da novo presidência, requer um comando e uma representação muito decisiva de defesa do projeto de comunicação pública. “Um projeto de comunicação que não pertence a nós, pertence à sociedade, e que nos coloca a todas e todos na condição de fazer valer o voto de confiança que a sociedade depositou neste projeto”, afirmou Rita Freire.
O ministro chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Edinho Silva, reforçou a importância de alcançar toda a diversidade de público do país. “Só há um caminho para EBC, ela tem que ser relevante para a sociedade brasileira”, apontou. Ao final de sua fala, ele pontuou a confiança que tem no trabalho do novo diretor. “Acredito que essa diretoria terá lucidez, sabedoria, habilidade para construir essa agenda de futuro da EBC”, concluiu, lembrando também da ação conjunta entre gestores e empregados para a superação de desafios.
O jornalista e ex-presidente da EBC, Américo Martins, responsável por trazer Ricardo para a Diretoria de Jornalismo, elogiou o trabalho do colega. “O Ricardo já começou um trabalho muito bom no jornalismo, com muitas mudanças contando com o apoio de toda a diretoria da EBC”, destacou, avaliando positivamente as perspectivas para a nova gestão. “Agora ele vai ter esse desafio na presidência, espero que ele seja muito bem-sucedido e acho que ele tem todas as condições de fazer valer esse projeto”.
Participaram ainda da cerimônia de posse os ex-presidentes da EBC, Américo Martins e Tereza Cruvinel; o presidente da Telebrás, Jorge Bittar; o presidente do Consad, Olavo Noleto; Indira Amaral, coordenadora de Rede da TV Escola; Jefferson Andrade, diretor da Fundação Aperipê (SE); Bia Barbosa, coordenadora do Intervozes; Gilberto Rios, da Abepec; Paulo Ricardo, da BRAVI; Jonas Valente, coordenador geral do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do DF, da Comissão de Empregados da EBC e dos conselhos e comissões da EBC.
Confira a Íntegra do Discurso de Posse do Diretor – Presidente da EBC, Ricardo Melo
Boa tarde.
Não pretendo tomar muito tempo de vocês, neste cenário em que proliferam discursos intermináveis, sessões parlamentares tão extenuantes quanto indigentemente folclóricas e exigências de cobertura
jornalística que põem à prova mesmo os mais experimentados profissionais.
Vou direto aos compromissos que penso serem os fundamentais nesta conjuntura de ebulição ímpar.
A Empresa Brasil de Comunicação é um patrimônio da sociedade brasileira. Suas premissas estão estabelecidas no artigo 223 da Constituição de 1988, que prevê a existência de três esferas de comunicação: a privada, a estatal e a pública.
Criada em 2007, a EBC surgiu justamente para colocar em prática esta diretiva constitucional. Seus objetivos: constituir-se em um meio de comunicação pública que contemplasse a pluralidade, a independência, a diversidade, a isenção, a autonomia diante dos governos de turno, a defesa da cidadania. Em uma palavra: tornar-se um instrumento insubstituível do exercício da democracia, que só será realidade num ambiente em que os ideais que levaram à criação da EBC se tornarem um fato consumado e irreversível.
Esse é o meu primeiro compromisso. Ser fiel a estes pressupostos, como tenho tentado fazer desde que assumi o posto de diretor de jornalismo. Não tem sido tarefa simples, decerto. O momento político delicado é cheio de armadilhas para o exercício de uma comunicação ao mesmo tempo isenta, plural e independente. Temos recebido críticas as mais variadas sobre aspectos de nossa cobertura. Pode soar paradoxal, mas o fato de elas virem dos vários lados em conflito, de uma certa forma, indicam que estamos no caminho certo.
Cabe destacar o seguinte: fui confrontado algumas vezes com métricas sobre os minutos dedicados a uma ou outra posição. Com todo o respeito, discordo deste tipo de estatística. Primeiro, porque tenho absoluta convicção de que nunca deixamos de abrir as nossas portas a todas as posições que desejem se manifestar. Nossos telejornais e nossa cobertura destes instantes frenéticos da vida política nacional estão aí para provar. Infelizmente, muitos convidados a manifestar suas opiniões têm declinado de comparecer.
Ainda assim, em nossos programas tivemos a oportunidade de receber políticos tão diversos como Aloysio Nunes Ferreira e João Pedro Stedile, personalidades como a futura presidente do Supremo Tribunal Federal, Carmen Lúcia, o advogado Hélio Bicudo, a presidente da UNE, os senadores Lindbergh Farias e Cristóvam Buarque, apenas para citar alguns. Também foram insistentemente chamados políticos como Aécio Neves, Tasso Jereissatti e Fernado Henrique Cardoso, que por motivos diversos não atenderam à nossa solicitação.
Discordo também daquele tipo de estatística porque ela parte de uma visão intracorporis, para usar uma expressão tão em voga. O pluralismo a que a EBC se propõe não pode deixar de levar em conta o ambiente político mais amplo. Não sejamos ingênuos. A mídia brasileira, nas últimas décadas, foi moldada na base de um oligopólio de proprietários e quase monopólio de opinião, descontadas algumas exceções de praxe. Como emissora pública, a EBC tem o dever inalienável de dar voz aos que não têm voz. Voltemos rapidamente no tempo: oito anos atrás, quando movimentos tão legítimos quanto os demais que povoam a mídia dominante, como os sem teto, os sem terra, o movimento negro, os coletivos feministas, as organizações LGBT, artistas, indígenas, deficientes e outros tantos coletivos representativos da cidadania teriam acesso a meios de comunicação de massa se discordassem do pensamento da
mídia dominante? Hoje eles têm onde se manifestar, e esse espaço é a EBC que tem proporcionado. Isso é um motivo de orgulho para todos nós e, sobretudo, uma garantia de que a democracia pode ser exercida no Brasil.
É justamente por isso que meu segundo compromisso diz respeito à luta para que a EBC conquiste de fato sua autonomia financeira. O decreto que criou a empresa estabeleceu um fundo para custear seus gastos na TV, Rádios e Agência de notícia com independência e sob controle dos órgãos de fiscalização e controle sociais. Até hoje, porém, a maior parte deste dinheiro está embargada pela Justiça, fruto de liminares impetradas pelas operadoras de telecomunicação. A EBC já foi vitoriosa em várias instâncias, mas faltam outras a percorrer. Trata-se de tarefa mais do que urgente, sob pena de a empresa morrer de asfixia tanto política quanto financeira.
E meu terceiro compromisso, sem que isto signifique o último em prioridade –na verdade os três estão no mesmo plano– diz respeito à valorização dos funcionários da EBC. Não cabe a mim tecer comentários sobre administrações pregressas, seja pelo meu desconhecimento, seja pelas dificuldades que certamente enfrentaram diante da imensa tarefa de construir uma emissora pública num país tão instável como o Brasil. Mas o fato é que nossa estrutura de cargos e salários não corresponde às necessidades próprias de uma empresa de comunicação. É por isso que está sendo proposto tanto um redesenho de nossa estrutura administrativa quanto a aceleração da implantação do PCR, uma velha reivindicação que pretendo ver resolvida na atual administração.
Para não fugir ao protocolo, passo à inevitável sessão de agradecimentos.
O primeiro deles vai para Tereza Cruvinel, primeira presidente da empresa e sem a qual a EBC não passaria de mais uma utopia a soçobrar nos escaninhos infernais da imensa burocracia nacional.
Jornalista mais do que brilhante, como comprova sua carreira vitoriosa em vários veículos de comunicação, não economizou esforços, saúde e, sobretudo convicções, para fincar os alicerces de uma empresa pública da qual todos os brasileiros podem se orgulhar.
Num mesmo bloco, agradeço à presidente Dilma por confiar em meu trabalho, ao ministro Edinho Silva pelo apoio e incentivo à comunicação pública, ao Conselho Curador e ao Américo Martins, que me deram a oportunidade de ingressar num mundo tão desconhecido quanto fascinante que é o de participar da construção de uma empresa de comunicação pública.
Faço questão, nesse agradecimento, de introduzir um parêntesis. Muitas vezes somos acusados de ser uma emissora chapa branca, porta-voz do planalto etc. Pois repito, novamente em público, que nunca, em nenhum momento, recebi qualquer telefonema, orientação ou sugestão no sentido de aliviar coberturas, desconsiderar fatos ou ignorar denúncias que envolvessem o governo ou quem quer que fosse. Nunca. Tenho exercido minhas funções com a mais completa autonomia jornalística, como raras vezes aconteceu em minha carreira que, a essa altura, já não é tão curta.
Não poderia deixar de citar também duas Robertas. A primeira, Roberta Malta,mãe do querido Tato, meio enteado, meio filho. A ela que tem sido minha companheira inseparável nos últimos anos, agradeço o carinho, apoio, estímulo e compreensão infinita diante de ausências muito maiores do que o previsto quando decidi vir para a EBC.
A outra, Roberta Dante, muitos aqui conhecem. Devo a ela a paciência descomunal de me ensinar os segredos e detalhes infindáveis que fazem parte do dia a dia da administração pública. Sua correção e talento profissionais, dedicação ao ofício, atenção aos pormenores e tolerância amiga diante de alguns rompantes sempre me deram a segurança para exercer minhas funções.
Por último, queria dizer algumas palavras aos nossos funcionários. Quando cheguei aqui, tive a oportunidade de dizer que raramente havia sido tão bem recebido como o fui na EBC. Quero tomar como exemplo a Flávia Mello, nossa gerente executiva de jornalismo. Flávia não é do quadro, como se diz. Optou pela comunicação pública por convicção, mesmo tendo à sua disposição tantas outras oportunidades de trabalho. E desde que a conheci vejo nela um exemplo de abnegação e dedicação que poucas vezes encontrei em minha vida profissional.
E por que cito a Flávia? Para dizer que uma de nossas preocupações é a de acabar com a distinção entre concursados e não concursados dentro da empresa. Somos todos trabalhadores. Isso não significa desconhecer os direitos de cada um, de acordo com a condição em que ingressaram na empresa. Eles sempre serão respeitados.
Mas, acima de tudo, temos de ter claro que existe um objetivo comum da esmagadora maioria dos que aqui trabalham: construir uma empresa de comunicação pública digna desse nome, com audiência e visibilidade crescentes tanto na TV, como no Rádio e na Agência de notícias pois de nada adianta uma programação de excelência se ela for ignorada pelos brasileiros. Uma empresa que seja fiel a seus princípios de criação e se consolide como um pilar da democracia no Brasil.
E quanto mais colegas conseguirmos atrair para estes ideais, venham de onde vierem e desde que identificados com nossos princípios e sujeitos à nossa realidade financeira, todos temos a ganhar.
Conscientes de que a melhor maneira de defender a EBC num instante tão delicado como este é consolidar a empresa diante da sociedade enquanto um instrumento indispensável à democracia e à conquista da cidadania dos brasileiros.
Essa certeza acho que nos une a todos, independentemente do governo de momento. Vai ter isso? Vai ter aquilo? Sinceramente, não sei. Só posso garantir uma coisa: se depender de mim, e de todos os comprometidos com esse projeto, vai ter EBC.
Muito obrigado.
Fonte: EBC