“O que um formato deve ter para viajar?” Essa foi a pergunta que Rob Clark, Diretor de Entretenimento Global da FremantleMedia se propôs a responder ao longo do painel “Criação de Formatos – Modelo FremantleMedia”. A resposta foi pragmática e fez com que os participantes do painel saíssem da sala com quatro elementos em mente.
“Primeiro, escalabilidade”, apontou Clark. “É preciso que o orçamento do formato seja capaz de ser adaptado ao tamanho de cada mercado, seja um país grande como os EUA ou pequenos como Vietnam e Cazaquistão”, disse colocando como referência o hit American Idol. Em segundo lugar, ele falou de retorno: a capacidade de uma ideia de gerar receita e engajamento ao longo do tempo. “Uma vez encontrado esse valor no formato, é fundamental mantê-lo renovado sempre com elementos novos”, apontou.
O terceiro elemento é promoção. “Antes os mercados televisivos eram dominados por poucos canais. Hoje vivemos num ambiente multicanal, no qual é preciso transmitir uma mensagem clara e efetiva em poucos segundos”, salientou. Por último, o formato deve ser adaptável, ou seja, a ideia deve ser suficientemente universal para ser adaptada em qualquer mercado.
Essa receita sugere que nada acontece por acidente, e o caso de Got Talent é uma prova disso. Embora hoje seja reconhecido pelo Guinness Records como o formato mais vendido na historia, há quinze anos o programa foi rejeitado pela emissora britânica ITV. Mas, em vez de desistir da ideia, a FremantleMedia o reformatou até atingir os resultados esperados. “O show se tornou global porque nunca aceitamos que o resultado estava terminado. É preciso nunca estar satisfeito e sempre buscar a renovação do conteúdo”, disse Clark.
Brasil Global
Há décadas que a Inglaterra é o maior exportador de formatos do mundo, seguido de perto pelos EUA, a Holanda e algumas revelações recentes como o Israel. Porém, por que não existem formatos internacionais brasileiros? O executivo acredita que chegou a hora de mudar essa realidade. “Existe um mundo lá fora onde vocês produtores independentes podem explorar e se tornar donos dos seus próprios direitos. E nós podemos ajudar nesse processo, estamos dispostos a fazê-lo”, complementou.
Por último, Clark comentou que ultimamente tem lido “muito lixo” na imprensa sobre a iminente morte do mercado global de formatos. “Existe e continuará existindo uma necessidade por formatos. É um mercado ainda demasiado forte”. Segundo ele, a tecnologia integrada às ideias permitirá continuar inovando nessa área. “Não acho que o futuro dos formatos esteja na interatividade. Será um tipo de tecnologia que permita ver conteúdo de uma maneira inédita”, concluiu.
Sempre atrás do consumidor
Ficou para trás a antiga ideia de um mundo dominado pelo Cidadão Kane, que reteria o controle sobre o conteúdo consumido pelas massas. Pelo contrário, mais poder para o usuário tem sido a marca do século XXI. “Vivemos num mundo que se tornou consumer-driven”, opinou Pierluigi Gazzolo, Presidente da Divisão Americas da programadora Viacom International Media Networks (VIMN). “As audiências consumem conteúdo onde e quando querem, e isso tem representado um desafio para companhias como nós, com tantas horas de conteúdo disponível”.
Durante o primeiro dia do RioContentMarket 2015, o executivo revelou os resultados de uma recente pesquisa de mercado realizada pela VIMN, com uma amostra expressiva do seu público-alvo. “Pelo menos 50% dos consultados assistem televisão linear, mas querem ter a possibilidade de ver conteúdo onde quiser em qualquer momento. É por isso que entendemos que o que se conhece como TV Everywhere deveria se chamar mais precisamente de TV Whenever”, sugeriu Gazzolo.
Assim, a programadora se preocupa em atender suas audiências em novas telas, principalmente através de sua oferta infantil, disponibilizando os conteúdos de Nickelodeon em VOD ecatch-up e está preparando um lançamento importante.“Estamos lançando My Nick Jr., um canal linear que poderá ser personalizado para cada usuário, escolhendo os conteúdos desejados do nosso acervo para que cada criança tenha o seu próprio canal programado automaticamente, inclusive com nome próprio”, revelou Gazzolo. O My Nick Jr. terá a vantagem de estar disponível para dispositivos móveis, permitindo que a programação não seja interrompida ao sair de casa. “No caso dos pré-escolares, está comprovado que o iPad é a babá mais frequente”, afirmou. O canal está prestes a ser lançado no Brasil, assim como um aplicativo do Nick que já tem 800 mil downloads na América Latina.
Vigência Linear
A mencionada pesquisa traz outros dados não menos reveladores: por exemplo, 75% dos participantes declaram que entram em contato com conteúdos novos através dos canais lineares de TV; e 95% dos hits da Viacom provêm da TV linear. Nesse sentido, o executivo é contundente: “A TV por assinatura nunca será afetada por essa realidade, muito menos na América Latina, onde permanecerá tão relevante como sempre”.
É por isso que a VIMN não descuida do seu portfólio de canais tradicionais. Recentemente, a companhia lançou o canal Paramount na América Latina, que chega para cobrir o segmento adulto e complementar marcas fortes, tais como MTV e Comedy Central, além do próprio Nickelodeon.
Gazzolo se despediu dando um puxão de orelha nos players encarregados de obter números de audiência na indústria. “Na Viacom movimentamos bilhões de dólares em publicidade baseados numa amostra de 5 mil pessoas. Nos EUA essa amostra é de 25 mil. Precisamos encontrar uma melhor forma de trabalhar com Ibope e Nielsen, inclusive no âmbito digital. Como posso mostrar aos anunciantes que estamos tendo um ótimo desempenho no YouTube ou nos Trending Topics?”