Um sucesso inesperado

Em outubro de 1999, o roteirista colombiano Fernando Gaitán se sentia ao mesmo tempo nervoso e empolgado. A nova historia que ele tinha escrito para o canal RCN estava prestes a estrear. Porém, o resultado era um enigma: a produção, com poucas expectativas e um elenco desconhecido, era uma aposta experimental. Poucas vezes tinha se visto na televisão do país uma protagonista deliberadamente feia.

“Nunca suspeitamos que seria o que foi. Foi quase no final do processo que percebemos que poderia ser um hit global”, admitiu Gaitán. Mas “Yo Soy Betty, la Fea”, a versão telenovela da historia do Patinho Feio, acabou por ser suficientemente universal. “Ela tem valores como a vaidade feminina e a marginalidade da personagem. Os sucessos estão baseados na identificação do público, e a beleza é algo pouco comum. No mundo, nós, feios, somos a maioria”, brincou o autor.

A história virou recorde Guiness graças às 22 adaptações locais no mundo todo, incluindo países díspares como o Brasil, Georgia, Egito, Filipinas e EUA. “Demos muita liberdade aos autores, porque a realidade de cada país é distinta”, comentou Gaitán, que na maioria dos casos participou das adaptações como consultor.

Betty teve o grande mérito de entrar no mercado dos EUA, único caso em que foi adaptada como seriado de 24 capítulos por ano. “Houve uma restruturação do gênero devido às características do mercado”, salientou. Intitulada “Ugly Betty”, a produção americana também teve outras particularidades. “A personagem nos EUA sofria uma dupla marginalidade: a feiúra e a discriminação por ser de origem hispânica. Foi um processo interessante, porque eles decidiram não seguir o modelo do Patinho Feio, então Betty nunca se tornava linda”.

Outro fator importante para a internacionalização do formato foi a parceria com a gigante mexicana Televisa, que comprou a ideia, produziu a sua própria versão local e ficou com os direitos para distribuição. À cada versão, as possibilidades se multiplicavam: no Brasil foi adaptada a versão mexicana, enquanto a versão da Georgia foi baseada na adaptação americana.

O roteirista também apontou algumas curiosidades tragicômicas: “Na Colômbia, as FARCs paravam a guerra para ver a Betty, mas também aproveitaram a hora da novela para atacar quarteis. Em Cuba, Fidel Castro parava seus discursos quando a Betty ia para o ar; e até Hugo Chávez chegou a falar que estávamos manipulando a novela para defender interesses colombianos na Venezuela”.

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