O tapete vermelho foi estendido no segundo dia do RioContentMarket para receber o multipremiado Steve Golin, produtor dos filmes ganhadores do Oscar 2016: Spotlight (Melhor Filme, Melhor Roteiro) e The Revenant (Melhor Ator, Melhor Diretor). O produtor aprofundou os detalhes do inovador modelo de negócio implementado pela sua companhia, a Anonymous Content.
“Trabalhamos como curadores de ideias. Não se trata de mandar para os diretores grandes quantidades de projetos que eles não podem processar, mas entregar-lhes material selecionado. Se juntarmos bons materiais com um bom diretor, temos um bom pacote que vender mundo afora”.
A empresa tem cerca de cem gestores de talentos (atores, diretores, produtores), cem clientes (um dos maiores é a Paramount) e atualmente desenvolve 50 projetos simultâneos. “A ideia de The Revenant levou onze anos para ser desenvolvida, e no caso de Spotlight, foram seis. São anos de idas e vindas com os projetos e alguns nunca chegam à tela”, comentou.
Essa estratégia tenta se contrapor ao modelo praticado por players tradicionalmente dominantes como HBO, que consiste na compra massiva de direitos de projetos que logo são depurados e poucos produzidos. Muitas ideias ficam pelo caminho e resta a frustração dos criadores. “O que a HBO faz é evitar que surjam hits às suas costas. Por isso nós montamos nosso próprio pacote in-house para vendê-lo já como produto original. Hoje em dia existe muito capital, compradores e plataformas diversas buscando conteúdos bem empacotados”. Tal foi o modelo utilizado com True Detective, também produzida por Golin e comprada, justamente, pela HBO.
A Anonymous trabalha muito com produção audiovisual de publicidade e vídeos musicais, uma atividade que inicialmente representava para Golin a oportunidade de gerar recursos para depois investir na produção de filmes. Porém, a crise iniciada em 2008 tornou o mercado mais difícil, e nesse mesmo momento algo novo começava a acontecer na TV: Breaking Bad e Mad Men.
“Percebi que o modelo do cinema estava sendo levado com a mesma lógica para a TV, com produtos de extrema qualidade. Depois entraram no jogo as plataformas de streaming envolvendo-se na criação de conteúdos originais, com House of Cards. O cenário estava mudando, então nosso processo de adaptação teve como consequência o True Detective”, disse Golin.
O produtor concluiu falando sobre a “brutal luta” pelos direitos dos conteúdos existentes hoje. “Quando Netflix comissionou House of Cards, ficou apenas com os direitos para os EUA, enquanto a Sony levou a distribuição global. Hoje, a Netflix só aceita projetos se ficar com os direitos mundiais, por isso os grandes estúdios veem a plataforma como uma ameaça. Um bom conselho aos produtores, num contexto de mudança permanente no negócio: segurem seus direitos”.