Mulheres superpoderosas

Com mais de 20 anos de experiência como criadora, roteirista, produtora e showrunner, Melissa Rosenberg chegou ao RioContentMarket para compartilhar as experiências de êxito e fracasso que a levaram a uma das personagens mais originais da atualidade: Jessica Jones.

“Vivemos a idade do ouro dos personagens, resumida em protagonistas incríveis como Walter White (Breaking Bad) ou Tony Soprano (The Sopranos). O problema é que quando você para ver são todos homens brancos!”. Esse predomínio foi uma das motivações da criadora para centrar suas energias numa personagem feminina.

Mas como se desenvolve uma personagem feminina? A resposta de Melissa foi categórica: “Isso não se faz! A questão é desenvolver uma personagem interessante e ponto. Ninguém pensa, no momento de escrever, em qual é a melhor forma de desenvolver um personagem homem ou um personagem branco”.

Assim, o resultado foi uma heroína dark com superpoderes, mentalmente perturbada, abusada sexualmente e com problemas com a bebida. Isso fez com que os canais de TV considerassem a ideia ousada demais, motivo pelo qual a série só se tornaria realidade com a chegada da Netflix, após permanecer três anos engavetada.

 

“Se o personagem fosse homem, a avaliação teria sido diferente. Mas foi considerada demasiado obscura para uma personagem mulher”. Porém, ela se manteve firme no seu propósito de resgatar da Marvel precisamente os elementos mais perturbadores de Jessica Jones. “O aspecto mais importante trazido dos quadrinhos é que ela assume totalmente quem ela é, sem se desculpar. Ela é uma sobrevivente”, comenta.

Melissa Rosenberg reconheceu que se sente mais confortável realizando adaptações do que criando conceitos inéditos e, nesse sentido, disse que para levar a história dos quadrinhos para a tela é fundamental recriar uma “viajem emocional” análoga à da fonte original, em vez de tentar transpor a história de uma forma fiel e literal.

Uma das dificuldades desse processo é o fato de deixar opções disponíveis na narrativa no final de cada temporada, prevendo possíveis temporadas futuras. Mas, para Rosenberg, o formato televisivo favorece o desenvolvimento narrativo nesse ponto. “Como espectadora não estou interessada em personagens estáticas de séries stand-alone. Para que um personagem seja interessante, considero que deve ter a capacidade de evoluir ao longo da história e que essa evolução seja acompanhada pelos telespectadores”, concluiu.

Notícias relacionadas