Um dos filósofos pioneiros a abordar questões da cibercultura também esteve presente no RioContentMarket 2014. Pierre Lévy apresentou o painel A Mídia Algorítmica e Seu Conteúdo. Para Lévy, a velocidade das transformações no ambiente cibernético torna quase impossível a previsão exata do que será a internet nas próximas décadas. “Em 1994, considerado ano zero da web, 1% da população mundial estava conectada. Hoje, 20 anos depois, são 35%. Se formos capazes de medir a velocidade da evolução passada, teremos uma ideia da velocidade da revolução no futuro. As pessoas conectadas podem facilmente emitir informação, além de receber”.
“Não estamos falando de uma transformação de gerações. É tudo muito rápido. O YouTube surgiu em 2005 e o Facebook em 2006, e esses são talvez os principais condutores de hoje. Isso significa que não conhecemos o que irá dominar as comunicações em 10 ou 20 anos. O poder computacional não está mais em nossos aparelhos, mas na ‘nuvem’, grandes centros de informação de grandes empresas. Lá é que estão os reais computadores”.
O pensador francês também apresentou itens que definem a “mídia algorítmica”, ou seja, aquela que está ligada aos aparelhos digitais. “A ubiquidade significa que você pode acessar informação onde quiser, especialmente quando se tem wi-fi. Também significa que, quando você coloca algo na internet, esse conteúdo está acessível de qualquer ponto do mundo. Isso é completamente novo, a interconexão geral de pessoas e conteúdos, de maneira gratuita. Nossa comunicação não está mais ligada diretamente à distância, e a distância não é relevante, como numa chamada telefônica. Outro ponto é a interconexão de documentos: qualquer página pode conectar com outra por um hiperlink, e qualquer tipo de informação pode ser conectada e reunida por uma pesquisa no Google, por exemplo. Isso faz com que surja, na verdade, um grande documento em transformação”.
“Pensamos que o mais interessante aspecto é mandar e receber. Contudo, o mais importante é a ascensão da mídia algorítmica – o software – e a mecanização e manipulação de símbolos – a computação. Estamos apenas no começo da exploração do controle dessa nova mídia. É como Gutenberg e a imprensa, estamos longe da Renascença. Neste estágio, não podemos nem conceber o que existirá daqui uma ou duas gerações. Quando você compra um livro na Amazon, você altera as definições de sugestões para pessoas que tem gosto parecido com você, então é possível mudar as relações entre os dados e a memória comum dos usuários. Não percebemos, mas a cada hora que fazemos algo online, acionamos algoritmos. Estamos programando a memória digital, mesmo não sabendo. Estamos o tempo todo classificando coisas no Twitter, por exemplo, pelo hashtag, como antigamente somente bibliotecários faziam ao catalogar livros”.